25/09/19

arriscadeiras

 

25/09/2019

 ARRISCADEIRAS

As flores de fogo atrevem-se às trevas. É este seu movimento.
Fogo preto.


Mas a Metrópole cerca.
Ocultas, as flores de fogo se encontram nas sombras que vagam nas costas dos prédios,
pela nuca dos soldados. São nômades
e passam sobre solo movediço.
É incerto.


São elas os corpos, a dança e a música.
Funda-se uma experiência, ela toda, trans.
Compostas inteiramente quase
de fugacidades, as danadas preferem se encontrar na pele estriada da rua,
e pouco descansam.
Seu fim: não tem nome. Seu desejo: espalhar por aí
esta aglomeração sem contornos,
essa quase-presença que, sem dúvida, é de ensandecer.


Cunhadas de Arriscadeiras pelos psicobotânicos,
as flores de fogo estendem seus ramos ardidos.
Se metem nos temidos cantos inúteis do asfalto,
como o meio atrás do muro, a parte ruim da rua, os terrenos abandonados
e toda espécie de lugar livre de uma função, livre de uma falta.
Lá, elas ritualizam o sujo.
Suas chamas consomem a casca encardida dos becos e dançam faíscas de cores malditas.
Nas poças escuros esgotos da alma, além e aquém das marginais do quadro cívico,
lá elas mergulham. Lá, nas profundidades,
nos espaços que foram banidos das visões urbanas pelas jornadas opacas,
como elas gostam de chamar os Mesmos.
Elas mergulham ferozes, abrindo seus dedos sedentos.


Há inquietação nos apartamentos
e mofo nos olhos dos senhores.
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