22/02/2020
das incertezas
um sumo que já sobe seco
destilado plasma piche
das avenidas
PUREZA PUREZA
invisível no céu e grande
uma garra de metal cínico
(imagina-se uma grua)
DESPEJA PESSOAS
entulho devém corpos causticados
corpos corroídos
caídos, mastigados,
corpos traídos pelo nascimento
espalhados
pela falta de números
A CULPA A
PUREZA PUREZA
domingo o jovem (delírio) afundou o rosto na praça
NÃO TINHA SIDO CHAMADO
ele um corpo alimentado, nutrido, carne top, lançado ali no meio. escorrega na lama de seus desejos e afunda no espesso caldo de cimento público. com veias aparentes, sua pele branca brilha. mas não tanto quanto o sebo podre acumulado nos ombros e nas canelas daqueles espalhados ao redor. DESPEJADOS que ali ESPERAM porque não residem de modo algum.
ali o jovem fica preso como peixe
- corpo em desacordo -
entre os planos retos do chão e
as linhas retas do sol.
ali na praça, convulsiona
o seu destino entre aqueles que não tem.
seu estômago
ferve enquanto se alimenta de sentir-se
um estrangeiro em desterras devastadas.
como se a praça e seus indigentes fossem um grande animal, o indivíduo de roupas inteiras é notado rapidamente, assim que ali não ignorou. como se pousasse numa zona sensível da pele ou da língua. carne fresca, faz a vibração do ambiente mudar. forma-se um outro jogo de tensões e de intenções. mãos empurram o chão e levantam suas cabeças seus troncos se viram na direção do estranho.
estar ali foi como abrir um buraco no meio de um deserto. este era apertado e abarrotado de famintos.
ELE NÃO TINHA SIDO CHAMADO
o jovem sabe que o sol emana algo de destruidor. ele se sente culpado, em combate com suas inseguranças de pequeno burguês. ele quer fazer de si um espaço e quer que o ocupe a alteridade que leu nos livros. ele quer o sol, mergulhar nele, vaporizar-se.
o sujeito se dissolve no calor
do momento no líquido
tudo fica ácido penetra
perde-se os limites
e a fome
dos outros
entra
porque é o que move tudo
o desejo de comer um bom prato
por alguns minutos não haver tempo ou espaço
apenas a sensação
do dente,
totalmente desimpedido,
penetrando e mastigando,
sem se preocupar com a forma ou o conteúdo,
mastigando,
sem se preocupar com o que pensar,
expressando
na íris
a língua do cavalo a abraçar tufos de capim,
franja da terra,
"não há quem se machuque com isto",
pensa a voz na cabeça
de Deus
DEUS
DESEJO DESEJO
eles a voz na cabeça de Deus
PORQUE O JOVEM? PORQUE NÓS SOMOS OS "OUTROS"?
...
ele não aguenta e vai embora, confuso.
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