16/03/21

contratempo

 

O que nos restou?
Ó, meu pai, o que foi feito da minha vontade?
Ó, minha mãe, o que foi feito do nosso desejo?
Quando foi feito o acordo?
Qual foi a cláusula miúda?
Na letra alpha havia um buraco sem-fim
mas muito estreito.

Eu vejo a irmandade se tornar uma ideia infantil.
Eu vejo a infância se tornar uma ideia infantil.
Um labirinto já não vale a pena brincar;
uma gangorra é apenas um erro,
ultra-passada pelas libras.

Ah, minha irmã! Brinquedos não servem!
E as pessoas
- no máximo -
servem!

A quem?
A quê.

O Pai Severo se despiu,
e da sua braguilha saiu um monstro, sem rosto,
que muito se parece com um dia na metrópole.
Sim, a nudez do Rei!
O sonho acabou!
Não há mais fantasia, e assim o tirano desfigura-se.
Enfim, revela-se a fibra
sintética
da tal realidade:
Deus está morto, mas o pecado é secular
e a física se funde ao sacrifício.

Então, meu irmão, te pergunto:
Qual foi a oferenda?
Um fígado? Um cérebro? Uma flor?
Qual órgão voador foi amputado?
Qual órgão, meu Deus, qual órgão?!

Benedictus calculus,
me diga,
qual anatomia eu preciso rezar para poder pagar a dívida?

A resposta é automática:
o produto foi entregue. Há segurança.
Em linha reta se percorre uma avenida. Não tem erro.

Não tem erro!
O Paradise é uma esteira:
nela nós corremos, nela nós velamos,
nela estamos sempre
seguros para sempre;
mas para dormir
nós precisamos
de uma engenharia sempre nova
de roldanas neurológicas.

Ah, meu amigo, é que o mundo
amadureceu!
Uma academia, um espaço otimizado,
profissional, o mundo
adulteceu!

E a lição nós aprendemos:
A infância é um contratempo.
A infância é um contratempo.
A infância é um contratempo.


 

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