15/04/21

que se abra

 



A cada quadrado no calendário
um bloco de cimento no sonho.
Conforme a geração se acaba
consumindo a si mesma,
nem mais em pensamento
se acessam utopias.
Não existe mais o fora,
não se está dentro de nada,
não há terra que se almeje;
o paraíso em nossas palmas
multiplica-se nos ares,
programando para sempre
os resquícios celestes.

A falta da imaginação
que engendrasse um bom viver,
a super vigília,
o ultrassonífero,
e o apagamento instantâneo
sob a luz do silício.

Inimigos vivendo encaixados
e impedidos de roçar
as vistas.
Militares ou militantes,
suas noites são a mesma
intranquila opacidade.
O horizonte se aproxima
junto às paredes do quarto
e a única saída é uma veia
que se abra.

Mas se ilude quem pensa
ser o cárcere maior
este corpo encarnado no cimento.
Nossa alma já não mais
encontrará refúgio.
E do lar primordial
só restarão relógios.

A única via é aquela
que ainda não existe,
mas que se indica
em algum lugar
da palavra barricada
ou aquela que se pensa ouvir cantar
quando o riso de um tambor
faz sair, por um momento,
do papelão um caracol.

Nenhum comentário:

Postar um comentário